terça-feira, 26 de maio de 2009

TESTEMUNHO DE UM LARINGECTOMIZADO NO IPO DE LISBOA

Dar voz à voz
Por: ORLANDO MONTEIRO




Feito o diagnóstico,tudo se desenvolve num espaço de tempo curto - ou assim deveria ser - sem que por diversas razões sejam feitas perguntas aos profissionais de
saúde acerca do periodo pós operatório e quais as consequências na vida do dia a dia do laringectomizado. O doente, por isso, parte, sem grandes preocupações em relação ao futuro, para uma nova etapa da sua vida , não tendo bem a noção das consequências profundas que tal passo irá significar para a sua vida futura.

Existe, assim, uma grande falta de informação que o vai apanhar desprevenido. Não menos importante, são as consequências psicológicas pelas quais o paciente vai passar, uma vez que estas não são abordadas pelo médico ou outros profissionais de saúde, constituindo este aspecto um verdadeiro salto para o desconhecido! Uma informação adequada e atempada acerca de todos estes aspectos evitaria, certamente, muitos momentos dificeis. A este respeito, seria de considerar seriamente um apoio que só tivesse por objectivo ajudar e informar os doentes desde antes da intervenção cirúrgica até à sua adaptação às novas condições de vida.

Após a operação e alguns sobressaltos que vão surgindo, segue-se uma outra etapa importantissima, ou seja a terapia da fala. Estes sobressaltos variam de caso para
caso, sendo alguns evitáveis se o doente tivesse sido, antecipadamente, alertado para eles - mais uma vez está aqui presente a falta de informação tão necessária e útil.

Através da terapia da fala, o Laringectomizado vai poder voltar a comunicar e assim reencontrar uma vida quase normal. É este um periodo de grande esforço e persistência para que os resultados se vejam o mais rápido e eficazmente possível. Requer esta fase o esforço árduo, paciência e treino intensivo por parte do laringectomizado para que os progressos se comecem a notar. Nesta altura é de realçar a preciosa ajuda de um Terapeuta da Fala: com a sua expriência , tambem paciência , profissiona-
lismo e dedicação ajuda para que o doente "REAPRENDA" a falar, assim como o apoio psicologico. Mais uma vez fica bem clara a necessidade de um apoio psicologico
especilizado, tendo em vista a dificuldade de comunicação destes doentes.

Uma vez " REAPRENDIDO" a falar com a sua nova voz, na vida quatidiana surgem, mesmo assim, algumas dificuldades para se fazer entender pelos outros.

* Assim falar ao TELEFONE pode tornar-se complicado

* Em sitios onde haja muita gente, o entendimento é dificultado,
quer dizer ser ouvido e entendido pelos outros.

* Tambem não é fácil determinados serviços onde o cliente e o atendedor estão separados
por um vidro e falam por meio de um intercomonicador:

* Pode ser complicado tocar à campainha de um prédio e responder a quem pergunta
QUEM É.

* Participar na conversa de um grupo muito grande tambem pode ser complicado.

* Tentar comunicar, dentro de um carro com os outros viajantes, torna-se igualmente dificil.

* O alfacto deixa de existir praticamente, com todas as suas consequências negativas que isso acarreta.

* Estas circunstâncias podem influenciar negativamente o estado de espirito procando uma hipersensibilidade
e irritabilidade mais frequente.

De acordo com o testemunho de muitos Laringectomizados, o sexo femenino entende melhor os Laringectomizados do que os masculinos:
Em todas as idades há bons e maus entendedores:
Os que parecem estar a entender mas que depois por um comentário se vê que está longe do assunto em causa:
Outros hà que respondem aos berros, quando na realidade o problema não é o da audição:

Enfim, ficam relatados apenas algumas dificuldades na comunicaçãodo do Laringectomizado com os outros. No entanto, é de salientar que nunca tal eventuali-
dade deve ser razão para desanimo.. há sempre o papel e o lápis ou brincar com os outros dizendõ-lhes que eles é que são maus entendedores. Nunca nenhuma dificuldade em comunicar deve ser razão para a auto-marginalização não querendo estar com os outros,o Laringectomizado deve fazer notar a sua dificuldade e assim impor-se aos
outros.

Os assuntos supra mencionados podem assumir uma maior importância na vida laboral activa. Mas tambem aqui, a força de vontade de cada um para se superar
a si mesmo e superar as suas limitações é fundamental. É exemplo disto, o grande numero de Laringectomizados que trabalha, alguns deles desempenhando funções de
responsabilidade. Perder a laringe não significa perder a capacidade intelectual.

O Laringectomizado não deverá fechar-se sobre si, guardando no seu interior emoções, ideias e reparos. Deve"falar" ou melhor dizendo, F A L E J A R,
parafraseando um outro Laringectomizado. Deverá, antes, colocar~se entre os outros como um igual.

Texto escrito por :HENRIQUE DOMINGUEZ

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