sexta-feira, 29 de maio de 2009

SAIBA O QUE É O CANCRO E QUAIS OS FACTORES DE RISCO

O que é o cancro? Como preveni-lo?





Saiba o que é o cancro, como pode ser detectado precocemente e quais os factores de risco.




O tempo é determinante no combate ao cancro. Informe-se e, pela sua saúde, consulte o médico quando suspeitar dessa situação. Quanto mais cedo for detectado, maior a probabilidade de cura do cancro.
O que é o cancro?
A palavra cancro é utilizada genericamente para identificar um vasto conjunto de doenças que são os tumores malignos.
Os tumores malignos são muito diversos, havendo causas, formas de evolução e tratamentos diferentes para cada tipo. Há, porém, uma característica comum a todos eles: a divisão e o crescimento descontrolado das células.
Todos os tumores são cancros?
Não.
Existem dois tipos de tumores: os benignos e os malignos. Neoplasia é também uma designação frequente para tumor.
Os tumores malignos, ao contrário dos tumores benignos, possuem duas características potenciais, que podem ou não estar expressas na altura em que a doença é diagnosticada:
Podem-se espalhar por metástases, isto é, aparecer tecido tumoral noutros órgãos diferentes daquele de onde se origina (por exemplo: fígado, pulmão, osso, etc);
Podem infiltrar outros tecidos circunvizinhos, incluindo órgãos que estão próximos.
Os tumores malignos são aqueles a que normalmente chamamos cancro. As doenças cancerosas são também designadas por oncológicas.
Como surge o cancro?
O cancro surge quando as células normais se transformam em células cancerosas ou malignas. Isto é, adquirem a capacidade de se multiplicarem e invadirem os tecidos e outros órgãos.
A carcinogénese, o processo de transformação de uma célula normal em célula cancerosa, passa por diferentes fases. As substâncias responsáveis por esta transformação designam-se agentes carcinogéneos. São exemplos de carcinogéneos as radiações ultravioletas do sol, os agentes químicos do tabaco, etc.
Para que se desenvolva um cancro é necessário que, de forma cumulativa e continuada, se produzam alterações celulares durante um largo período de tempo, geralmente durante anos.
Como resultado, cresce o número de células que apresentam alterações de forma, tamanho e função e que possuem a capacidade de invadir outras partes do organismo.
Como é que se diagnostica um cancro?
Um cancro pode ser suspeitado a partir de várias pistas: as queixas que o doente refere, a observação médica, diversos exames médicos (análises, TAC - tomografias axiais computorizadas e muitos outros – a definir consoante a circunstância) ou as achadas numa cirurgia.
Mas para confirmar o diagnóstico de um cancro é geralmente necessário uma amostra do tumor (biópsia). A análise dessa amostra permite determinar se a lesão é um cancro ou não. Este estudo dos tecidos (análise histológica) permite classificar e saber, na maioria dos casos, quais são os tecidos e as células das quais provém o tumor e quais são as características das mesmas. Por vezes é possível diagnosticar ou suspeitar de um cancro através da análise de células colhidas em locais de acesso superficial (citologia exfoliativa de, por exemplo, o colo do útero) ou por punção com aspiração das células (citologia aspirativa) Estes factores são fundamentais para determinar o tratamento mais adequado em cada caso.
Quais são os tipos de cancro?
Os cancros classificam-se de acordo com o tipo de células avaliado pela anatomia patológica, em:
Carcinoma - Tumor maligno que se origina em tecidos que são compostos por células epiteliais, ou seja, que estão em contacto umas com as outras, formando estruturas contínuas, como, por exemplo, a pele, as glândulas, as mucosas. Aproximadamente 80 por cento dos tumores malignos são carcinomas.
Sarcoma - Tumor maligno que tem origem em células que estão em tecidos de ligação, por exemplo ossos, ligamentos, músculos, etc. Nestes, as células estão unidas por substância intercelular e não são epitélios, são tecidos conjuntivos.
Leucemia - Vulgarmente conhecida como o cancro no sangue. As pessoas com leucemia apresentam um aumento considerável dos níveis de glóbulos brancos (leucócitos). Neste caso, as células cancerosas circulam no sangue e não há normalmente um tumor propriamente dito.
Linfoma - Cancro no sistema linfático. O sistema linfático é uma rede de gânglios e pequenos vasos que existem em todo o nosso corpo e cuja função é a de combater as infecções. O linfoma afecta um grupo de células chamadas linfócitos. Os dois tipos de linfomas principais são o linfoma de Hodgkin e o linfoma não Hodgkin.
É possível detectar o cancro precocemente?
Alguns tipos de cancro podem ser detectados precocemente.
A detecção precoce e o tratamento adequado imediato levam ao prolongamento do tempo de vida. Quanto mais cedo for detectado, maior a probabilidade de cura do cancro.
Quais são os métodos de detecção precoce?
Consoante o tipo de tumor existem exames que podem permitir uma detecção precoce de alguns cancros. Para alguns tumores justifica-se a realização de exames de rotina a toda a população em risco para a detecção precoce de neoplasia. O tipo de exame varia consoante o tumor que se procura. Por exemplo, mamografia (radiografia das mamas) para o cancro da mama feminina ou citologia (exame das células) do colo do útero ou, ainda, pesquisa de sangue nas fezes para o cancro do intestino grosso (cólon). Nem todos os tumores justificam exames de rotina para a sua detecção em população sem sintomas ou sinais de suspeição. O seu médico saberá quais os exames indicados e os momentos adequados para os fazer.
Quais são os sintomas a que se deve estar atento?
Os sintomas que acompanham com maior frequência os diferentes tipos de cancro e para os quais deve estar atento são:
Nódulo (caroço) ou dureza anormal no corpo. A maioria dos nódulos ou úlceras pode dever-se a manifestações benignas, mas não deve descurar a hipótese de se tratar de uma lesão maligna.
Dor persistente no tempo (que não desaparece com analgésicos) e da qual deve informar o seu médico.
Sinal ou verruga que se modifica.
Perda anormal de sangue ou outros líquidos. Uma hemorragia vaginal, urinária, pelas fezes, na expectoração, etc., pode ser um sintoma de uma doença benigna, mas também pode ser sintoma de um tumor maligno que se origina no útero, vagina, cólon ou pulmão.
Tosse ou rouquidão persistente. Tosse ou rouquidão que persiste mais de duas semanas e que não desaparece com tratamento sintomático deve ser analisada por um otorrinolaringologista. Deve ter especial atenção se é fumador.
Alteração nos hábitos digestivos, urinários ou intestinais. Na maioria das ocasiões pode tratar-se de uma lesão benigna. A modificação dos hábitos intestinais, a alternância dos mesmos e a alteração da cor das fezes podem indicar a necessidade de um estudo para descartar a existência de um cancro colorectal.
Perda de peso não justificada. A perda de peso sem fazer dieta, mantendo os mesmos hábitos alimentares e sem aumentar a actividade física deve ser valorizada.
Que testes de rastreio devem ser feitos?
De acordo com uma Recomendação do Conselho da União Europeia à Comissão e aos Estados Membros, devem ser feitos os seguintes testes de rastreio:
Rastreio do cancro do colo do útero: realização do Teste de Papanicolau - a iniciar entre os 20 e os 30 anos;
Rastreio do cancro da mama: realização de mamografia nas mulheres com idades compreendidas entre os 50 e os 69 anos;
Rastreio do cancro colorectal: pesquisa de sangue oculto nas fezes em homens e mulheres com idades compreendidas entre os 50 e os 74 anos.
A ocorrência de determinadas doenças prévias no indivíduo e, especialmente, a ocorrência de determinadas doenças oncológicas em familiares próximos podem justificar um plano de rastreio diferente, a definir pelo médico
Factores de risco e formas de prevenção
De acordo com o código europeu contra o cancro (CECC).
Fumar. Não fume. Se é fumador, deixe de o ser o mais rapidamente possível. Não fume na presença de não fumadores.
Obesidade. Evite a obesidade.
Pratique, diariamente, exercício físico.
Aumente a ingestão diária de vegetais e frutos e limite a ingestão de alimentos contendo gorduras animais.
Modere o consumo de bebidas alcoólicas, tais como cerveja, vinho e bebidas espirituosas.
Evite a exposição demorada ou excessiva ao sol. É importante proteger as crianças, os adolescentes e os adultos com tendência para queimaduras solares.
Cumpra as instruções de segurança relativas a substâncias ou ambientes que possam causar cancro.
As mulheres devem participar no rastreio do cancro do colo do útero (Papanicolau).
As mulheres devem participar no rastreio do cancro da mama.
As mulheres e os homens devem participar no rastreio do cancro do cólon e do recto.
Participe em programas de vacinação contra a Hepatite B de acordo com as normas da Direcção-Geral da Saúde.
Consulte
Rede de Referenciação Hospitalar de Oncologia - (Adobe Acrobat - 802 Kb)Site da Liga Portuguesa contra o Cancro

quinta-feira, 28 de maio de 2009

CONHEÇA OS SINTOMAS DA DIABETES

O conhecimento dos sintomas da diabetes irá certamente ajudar num diagnóstico precoce e num tratamento adequado. Leia mais para ficar a saber acerca dos sintomas desta doença. A diabetes é uma doença caracterizada pelo alto nível de açúcar no sangue, também chamado de hiperglicémia. A hormona insulina, que é produzida pelo pâncreas, controla o metabolismo do açúcar no organismo. Um alto nível de açúcar no sangue pode dever-se a dois factores: uma produção reduzida de insulina ou a resistência por parte do organismo à insulina e, por vezes, a ambos. Há três tipos de diabetes, que se baseiam nas causas. Diabetes de tipo 1é aquele que é devida à falta de produção de insulina pelo corpo, enquanto a diabetes de tipo 2 é o resultado da incapacidade do corpo em utilizar a insulina. A diabetes gestacional assemelha-se à diabetes de tipo 2 e ocorre em mulheres grávidas em qualquer altura durante a sua gravidez. Tanto factores hereditários como ambientais podem ser responsáveis pelo aparecimento da diabetes.Sintomas da DiabetesNormalmente, os primeiros sintomas da diabetes não são tão sérios e muitas vezes passam despercebidos. É por isso que muitas vezes a diabetes não é diagnosticada nos estágios primários. Os sintomas diferem para cada tipo de diabetes. Seguem os sintomas e sinais mais comuns.Urinar frequentemente (poliúria): Uma vez que o nível da glicose no sangue aumenta acima do normal, a filtração e a absorção a nível dos rins é incompleta. Logo, o líquido filtrado resultante, que é eliminado mais tarde sob a forma de urina contém uma determinada quantidade de açúcar. Este açúcar aumenta a pressão osmótica e prejudica a absorção de água por parte dos rins, o que provoca o urinar frequente.Aumento de sede: Devido à poliúria, o organismo perde uma quantidade excessiva de fluido. Para tentar compensar esta perda e equilibrar os níveis de açúcar no sangue, o organismo provoca uma maior vontade de consumir de água.Aumento de apetite: Para baixar o nível de açúcar no sangue, o organismo começa a produzir mais insulina. Uma das principais funções da insulina é o estímulo da fome. Logo, o nível mais elevado de insulina aumenta a sensação de fome.Perda de peso: A perda de peso é devida à perda excessiva de açúcar e de fluidos. Para além disto, a glicose proveniente dos alimentos digeridos não chega ás células do organismo. Um paciente que sofra de diabetes de tipo 1 perde peso muito mais rapidamente que um paciente que sofra de outro tipo de diabetes.Visão turva: O aumento do nível de açúcar no sangue absorve o fluído das lentes oculares devido à alta pressão osmótica. Isto provoca a diminuição da capacidade de focagem, o que por sua vez provoca a visão turva.Aumento da fadiga: Devido ao excesso de produção de urina, o paciente fica desidratado e sente-se cansado. Para além disto, grande parte do açúcar existente no organismo é eliminada através da urina. Logo, há uma diminuição da quantidade de açúcar disponível como fonte de energia, o que aumenta o nível de fadiga.Aumento de infecções e recuperação lenta: Até à data não se conseguiu determinar a causa exacta do aumento do nível de infecções e da diminuição da velocidade de recuperação nos pacientes diabéticos. No entanto, acredita-se que a função imunitária do doente diabético seja comparativamente reduzida relativamente ao de uma pessoa sã. Isto poderá dever-se ao elevado nível de açúcar no sangue, que impede o funcionamento correcto dos glóbulos brancos.A diabetes é uma das doenças crónicas comuns nas gerações actuais. É uma doença muito séria e não deve ser ignorada. Embora a diabetes possa ser tratada através da injecção externa de insulina, não pode ser curada. Apenas o tratamento correcto ao longo do tempo, com medicação, dieta e exercício pode ajudar o paciente a manter-se saudável e a viver mais tempo. Há certas dietas apropriadas para pessoas que sofrem de resistência à insulina que diminuem a velocidade de libertação do açúcar no sangue. A realização regular de testes ao sangue e à urina para a detecção da diabetes é recomendada. As pessoas que sejam obesas e também as que tenham um historial familiar de diabetes deverão tomar precauções maiores.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

TESTEMUNHO DE UM LARINGECTOMIZADO NO IPO DE LISBOA

Experiencia de um laringectomisado.


O diagnóstico caíu-me em cima como uma paulada na nuca. Fiquei atordoado.

Um pequeno incómodo na garganta levou-me a consultar, sucessivamente, um clínico geral e dois otorinos . Todos me tranquilizaram e mandaram embora com umas receitas daquelas do tipo “se não fizer bem ...mal também não faz “.

Finalmente o 3º otorino consultado fez um exame sério e recomendou um TAC, a que se seguiu uma biopsia. A partir do resultado desta......o diagnóstico estava feito e o programa traçado.

Tudo isto se desenvolveu num espaço de tempo muito curto deixando pouco tempo para pensar
ou para fazer perguntas sobre como seria o post operatório e as consequências da laringecto-
mia na vida corrente.

O especialista informou-me perfeitamente sobre os aspectos técnicos da situação e da inter-
venção cirúrgica, mas nada acerca das consequências no plano psicológico. Caminhei para a operação sem preocupações e sem ter ideia de como seria o futuro.

Se tivesse tido uma informação adequado sobre estes aspectos teria evitado muitos momentos
difíceis. Creio saber que no estrangeiro existem associações que ajudam os laringectomisados
desde antes mesmo da intervenção cirúrgica, até á sua adaptação ás novas condições de vida.

A operação correu perfeitamente bem, o tumor pôde ser inteiramente removido,a passagem pela sala de reanimação quase deixou uma boa recordação. Episódio caricato : Ouvindo uma das
jovens e eficazes enfermeiras falando do teto da sua sala que ia pintar nesse fim de semana e apercebendo-me que não tinha ideia de como utilizar um rolo de pintura pedi-lhes ( pela primeira vez ) um papel e um lápis e escrevi como devia fazer. Certamente o efeito das drogas que me tinham injectado....

As primeiras horas no quarto também não foram más apesar dos tubos que me saiam do corpo
e dos rolos de chumaços á roda do pescoço. Abençoadas drogas que tão bem evitam o mal-estar.

Pouco tempo depois as coisas começaram a complicar-se. Comecei a tomar consciência que a
minha respiração (isto é a minha vida) estavam dependentes de um buraco que, artificialmente
me tinham aberto no pescoço e que me parecia muito mais frágil e sensível que os orifícios
originais previstos para o efeito.



Em seguida vêem anunciar-me que devo fazer “Atmosfera húmida “. É a primeira vez que ouço falar em tal coisa.

Alguma dificuldade em respirar com o tubo da “atmosfera” levou-me a recusar continuar com
esta. Bela asneira cujas consequências tive de pagar a seguir .Falo nisto para salientar a falta de informação com que vivia na altura. As enfermeiras bem faziam o que podiam para ajudar e informar,mas seria a elas que competia essa missão ?

Se tivesse sabido da utilidade da “atmosfera”na eliminação dos “rolhões” que tinha no sistema
respiratório e que a “atmosfera” ia ajudar a eliminar teria evitado muitos sustos e muito mal estar.

Só por causa desta asneira tive de voltar á clínica depois de ter tido alta, para fazer “atmosfe-
ra” e ser aspirado e tive de ter um aspirador em casa e fazer “atmosfera” durante muito mais
tempo do que teria sido necessário.

De manhã e á noite as sessões de aspiração eram um tormento, tanto para mim como para minha mulher, condenada a “aspiradora “. No entanto a saída de enormes rolhões provocava um
alivio e um bem estar indescritíveis .

Também todas as noites tinha ( e tenho ) um ritual que era ( é ) o de retirar a canula para a
lavar. Ao principio esta rotina era feita sob enorme tensão nervosa,talvez por um receio inconciente de não poder voltar a colocar a dita canula e ter,em consequência,dificuldades
respiratórias. Utilisei um gel para facilitar a colocação,depois vazelina líquida e actualmente
só com molhar a canula e o estoma é o suficiente para não ter problemas. Mas confesso que,
ainda hoje,sinto,por vezes um”apertozinho” ao efectuar o” tratamento”.

Durante bastante tempo utilisei uma canula “clássica” tubular, da Atos Medical-Provox,com
uma “cassette” filtrante e uma fita á roda do pescoço para segurar a canula. Tomar duche implicava pôr uma proteção á volta do pescoço para evitar a passagem da água, o que complicava
as coisas com o cuidado de não esquecer a proteção para viajar,por exemplo.

Finalmente, ao cabo de mais de 2 anos, resolvi atrever-me a experimentar o “Lary Button
Provox”. Os primeiros dias, tal como a “Atos” prevê,provocaram pequeninas hemorrogias,na zona do estoma,ao retirar o ”botão”. Mas rapidamente este inconveniente desapareceu e as vantagens do sistema impuseram-se. A fita á roda do pescoço deixou de ser necessária ( que alivio !) a respiração é mais fácil,a eliminação das secreções e a manutenção durante o dia também.

E,casualmente,descobri uma coisa que me deu um enorme alivio. Não é necessária sequer qual-
quer proteção especial para tomar duche.
Então acabei por ir mais longe com a experiência. Ao cabo de mais de 3 anos voltei a meter-me
dentro duma piscina. Apertei com o dedo o “obturador” da cassette Provox e arrisquei enfiar a cabeça debaixo de água. Surpresa ! Não entra nem uma gota. Claro para manter a cabeça debaixo de água tem de ser em apneia e mantendo o “obturador” primido. Mas creio que será possível melhorar esta “técnica”. A experiência anterior “dentro de água” é uma ajuda impor-
tante a levar em conta.

Já agora, um comentário acerca das “cassettes” do sistema Provox . A Atos recomenda a sua subsistituição diária o que implica ter á disposição uma quantidade enorme com os consequen-
tes custos exorbitantes. É fácil desmanchar a “cassette” para lavar o elemento filtrante - a pástilha em espuma. Perdem-se certamente virtudes do sistema, mas não me consegui
aperceber-me de quais...Há mais de 2 anos que procedo assim e não constatei nenhuma contra-indicação.

Também experimentei o material Trachi-Naze da Kapitex que é um equivalente do sistema Provox. Quanto a mim o grande inconveniente do Trachi-Naze reside na dificuldade em retirar e recolocar o elemento filtrante com a canula em posição. Perante uma quantidade abundante de secreções esta dificuldade pode revelar-se importante.

Uma das importantes funções das “cassettes” é, não só, a de filtrar o ar inspirado como tam-
bem a de evitar a eventual penetração de insectos ( particularmente para quem se desloque com frequência ao ar livre ).

As firmas especialisadas propõem lenços para colocar ao pescoço e esconder e proteger o es-
toma. São principalmente um elemento estético com o inconveniente de poder ser incomoda-
tivos pelo calor que provocam.

O sistema com o “Lary Buttom” é muito discreto e até permite o uso ( quase ) normal de uma
gravata para alem de permitir uma eliminação das secressões mais fácil do que com as canulas
mais compridas.

Estas observações são apenas o resultado de uma vivência pessoal e não têm outra preten-
ção que não seja a de,eventualmente,serem úteis a alguém nas mesmas circunstancias.

Creio que uma atempada e completa informação,evitaria muitas angustias ao laringectomisado.
É que este sente que a sua vida passou a depender daquele “buraquinho” e daquele “tubinho”.
Anteriormente tinha 2 alternativas mais naturais e convincentes : as narinas e a boca ......

Para terminar este capitulo umas palavras sobre a radioterapia. De facto,por razões de segurança fiz radioterapia. Deveria ser um tratamento sem problemas mas no meu caso foi uma
tortura digna da Santa Inquisição...
Eu explico : para imobilizar a cabeça durante o tratamento é utilisada uma máscara feita á medida da cara num material plástico perfurado e com grandes buracos para o nariz, olhos e boca. Só que a imobilização da cabeça com a dita máscara provocava-me um pânico inexplicável. Só aguentei as sessões graças a uns geniais e radicais (?!) comprimidos que me deixavam completamente atordoado e sem reacções.

Ainda uma observação acerca de uma consequência da anestesia. Bloqueou-me o acto de urinar.
Por causa disso fiquei durante 4 meses com uma algálea e uma das más recordações dessa época foram o retirar da algálea e o voltar a coloca-la, o que teve lugar várias vezes. Finalmente, submtive-me a uma raspagem da próstata o que repôs a normalidade das funções.

Postos estes preliminares vamos ao objectivo destes comentários que é o de referir algumas
observações sobre a comunicação na qualidade de laringéctomisado.

E para começar uma observação que é um dever de justiça :

Se o cirurgião é o “anjo negro” que vos salva a vida roubando-vos a palavra, a/o Terapeuta da fala é o “anjo branco” que vos ajuda a voltar a comunicar e assim a reencontrar uma vida ,quase,
normal. Mas não só.

No meu caso, a Terapeuta da Fala, pela sua experiência, pelo conhecimento de outros casos semelhantes, pelo seu profissionalismo e gentileza ajudou-me a ultrapassar a falta de apoio
psicológico especializado a que me refiro adiante. Bem haja por isso, e bom seria que todos
os “companheiros” no meu caso, tivessem uma ajuda semelhante.

Tenho de começar por dizer,á partida,que para tentar “falar”excluí as soluções que não
a fala esofágica ( e o indispensável apoio do papel e do lápis ).

Infelizmente esta exige muito esforço e muito teino e,confesso, que sou extremamente preguiçoso para esse treino........o que quer dizer que os progressos são desesperadamente lentos.

Após a cirurgia,e durante bastante tempo, limitei-me a utilizar o papel e o lápis sem procurar emitir qualquer som.



Abro aqui um parêntesis para repetir que o factor psicológico tem,em minha opinião,um peso enorme em todo este processo, ante e post operação. Infelizmente esse aspecto é totalmente
ignorado por cá, enquanto que nalguns países os pacientes têm,sistematicamente apoio psicoló-
gico. É um lugar comum dizer que “cada caso é um caso”, mas em maior ou menor grau, seria uma boa coisa para todos.

Mas teria de ser um apoio psicológico por especialistas com capacidades especificas par tais
casos. De facto se o laringéctomisado tiver de juntar aos seus problemas a dificuldade de comunicação com o psicólogo.....a terapia não irá longe.

É que a “ressaca” originada pelo traumatismo sofrido pode não se manifestar imediatamente após a operação. Pode surgir bastante tempo mais tarde quando vida,aparentement,retomou um ritmo normal , e parece ter sido encontrada uma nova maneira de viver.

Voltando ao tema,depressa me apercebi que me fazia entender de algumas pessoas, enquanto que para outros o papel e o lápis eram indispensáveis . E isto não contribuiu muito para melho-
rar o moral.

Com o tempo fui-me apercebendo que a primeira grande diferença entre os “bons entendedo-
res e os maus entendedores” era uma questão de sexo. As mulheres percebem com muitissíma
mais facilidade que os homens a minha “palavra”. A diferença é impressionante. Por vezes é
quase possível manter uma conversa normal. Ao contrário com os homens ...pode ser com-
plicado.........

Não tenho, obviamente, nenhuma explicação . Limito-me a constatar.

Mas se fosse só assim...seria fácil.


Há outro grande grupo ( ambos os sexos ) com uma capacidade de entendimento notável. Trata-
-se dos empregados (as) de cafés e restaurantes. Diria que quase não tenho problemas para me
fazer entender por eles e há muito que não recorro ao papel e ao lápis para encomendar alguma
coisa nesses locais. A explicação poderá estar no facto de que, o número de palavras utilisadas
sendo limitado, a compreensão é mais fácil.


Também não encontrei nenhuma divisão por faixas etárias. Não posso dizer que os jovens ou os
idosos entendem mais ou menos bem. Em todas as idades há bons e maus “entendedores”.

Curiosamente, as crianças que se poderia pensar que tivessem mais facilidade de compreensão,
não revelam qualquer aptitude especial.

Também diria que há pessoas que,á partida pensam “eu não vou entender este tipo”.
E claro,não entendem mesmo !

Mais uma curiosidade : Os bons “entendedores” ouvem algumas palavras completas e, noutros
casos, deduzem a palavra a partir de uma ou duas sílabas e do contexto da frase. Mas quando
se trata de nomes próprios ? Nesse caso ou se consegue pronunciar relativamente bem e alto
....ou só resta recorrer ao papel e ao lápis....( Há sons particularmente difíceis de emitir e que
parecem ocorrer com frequência nos nomes próprios....)




Um episódio caricato é o das pessoas que ouvindo o meu falajar sussurrado acham-se na obri-
gação de meu falar aos berros ( quando não é utilisando a mesma linguagem com que se diri-
gem ás crianças ). Já várias vezes disse : “Posso ser meio mudo...mas não sou surdo !!!!”

E há mais outra situação ao mesmo tempo cómica e frustante. Ocorre quando se fala com uma
pessoa que parece estar a entender perfeitamente o que se lhe está a (tentar) dizer e de re-
pente, pelo seu comentário, apercebemo-nos de que está a léguas do assunto de que se lhe está a falar. Por vezes pode ser divertido, mas geralmente é frustante e muito deprimente.

E também há aqueles que viram a cara de lado, estendendo o ouvido para tentar ouvir melhor...
O resultado é nulo e, mais uma vez, frustante.

Para alguém , como eu, já está meio reformado, o problema da fala..........vai-se gerindo.......

Acredito que a situação seja muito mais complicada quando o problema surge no auge de uma vida activa.

Daí que as motivações para o esforço necessário para treinar uma fala esofágica sejam,neces-
sáriamente e compreensívelmente diferentes.

Sem entrar num campo muito polémico seria interessante poder determinar qual é a responsa-
bilidade das coisas que, ao longo da vida, ficam por dizer, os “sapos engolidos”, na formação de
um tumor localisado de modo implicar a remoção das cordas vocais.

Do mesmo modo poder-se-ia estudar se a maior ou menor facilidade em conseguir uma boa fala
esofágica não tem também uma forte componente psicológica. Mas estes pontos estão fora do
âmbito destes comentários

Há dificuldades na vida corrente do laringectomisado que nem sempre são evidentes para quem fala normalmente .

O falar ao telefone é uma delas. Claro que há laringectomisados que recuperaram o uso da pala-
vra a ponto de poderem falar ao telefone....mas eu refiro-me aos outros. Não falar ao tele-
fone, nos dias de hoje, representa uma limitação importante e uma dependência de alguém que
ajude.

Imagine-se,por exemplo,um qualquer problema conduzindo um automóvel. O telemóvel resolve
Rapidmente o problema de pedir assistencia, mas o “não falante” fica dependente de uma alma caridosa que faça o contacto por ele !

E a propósito de automóvel........É praticamente impossível fazer-me entender dentro de um
automóvel em marcha. No decurso de uma viagem longa é uma situação muito traumatisante ao
sentir-se uma imensa tristeza e isolamento por não poder partilhar os comentários induzidos pelo que se vai vendo e sentindo ao longo do caminho.

Também não é fácil em determinados serviços onde o cliente e o atendedor estão separados por um vidro e falam por meio de um intercomunicador. Abençoado papel e lápis para resolver
a situação.

Mas pode ser mais complicado ao tocar á campainha de um prédio e o quando o intercomunica- dor pergunta :“ Quem é ? “ Nesse caso o papel e o lápis não são grande ajuda.........Talvez ficando á espera que alguém entre ou saia ?

E um gesto tão simples como de pedir uma informação na rua, ou em viagem, quando uma ajuda
para encontrar o caminho certo pode ser determinante ? Torna-se complicado pelo que,pela
minha parte,proucuro prescindir dessas ajudas....

E há mais........Que dizer de quando se quer ser bem educado e entrando num local onde estão
outras pessoas se pretende cumprimentar, nem que seja com um simples “ Boa tarde “?
Sente-se algum mal estar......

Claro que a Internet constitui uma óptima forma de manter o contacto com os amigos de
receber e procurar informação. Mas quando há uma avaria ? Como se contacta com o serviço de
assistência ? Está-se sempre dependente de uma ajuda....( mais problemas para o psicólogo ?)

Uma conversa com 2 ou mesmo 3 pessoas ainda é possível ( ás vezes ajuda quando está um ele-
mento do sexo femenino para .........traduzir ). Mas num grupo maior é fácil sentir-se,se não
marginalisado,pelo menos isolado . É que com o barulho de fundo o pouco som produzido ...não se
ouve ! Neste caso o papel e o lápis também não ajudam .Quando se acaba de escrever já a con-
versa avançou e o comentário perdeu a oportunidade . É frustante ter de “engolir” uma boa
“boca”. No meio de um grupo acaba por pensar-se com frequência “ Mas que estou eu aqui a fa-
zer ? Deixem-me ir para casa !”

Deve ser das situações mais penosas e tristes que me tem sido dado viver.


Aliás não são só as “bocas” que se engolem. Pelo menos no meu caso acabo por simplificar o
contacto com os outros. Exemplificando : Em lugar de dizer “ Entre o que diz o Serviço Mete-
riológico e o céu ameaçador receio que hoje ainda vá chover” diz-se simplesmente “ Vou levar o
guarda-chuva “.

O diálogo nem sempre é fácil. Pode-se exprimir uma opinião mas quando esta é contrariada
pelo opositor, a defesa da opinião emitida torna-se demasiado complicada. Por isso,frequente-
mente, deixa-se cair o tema ou nem sequer se entra na discusão. Mais umas situações que se
“engolem”....

Isto não é tão fácil de suportar como pode parecer ( eu era um grande falador antes da operação ).

Como defesa começa-se a dialogar mentalmente . Inventa-se um dialogo que fica todo no interior que por vezes origina uma acrimónia que não facilita o verdadeiro diálogo com os outros.

As consequências vão mais longe .O facto de fechar-se sobre si mesmo, sem transmitir o
seu sentir aos outros faz com que o comportamento dos outros seja muitas vezes decepcionante o que origina tensões relacionais.

Ainda não sei até que ponto estas dificuldades originam um carácter “rabugento” ou se será
simplesmente o inelutável efeito da idade que origina a “rabugice” O facto é que pequenas contrariedades e decepções são sentidas com uma anormal intensidade que fica,geralmente,por exprimir Parece que se entra num círculo vicioso. Mais sentimentos “engolidos”,mais acrimónia,
mais rabugice ! E a espiral vai sempre crescendo. O carácter vai “azedando”...a relações com os
outros podem complicar-se....

No entanto é de elementar justiça salientar o papel dos familiares e dos amigos. No meu caso o
apoio familiar foi inexcedível o que atenuou muitos problemas, sobretudo nos primeiros tempos
após a operação. A presença dos amigos foi ( e é ) uma constante que evita aquela compreen-
sível, mas muito negativa, tendência para o isolamento que deve ser evitada a todo o custo (ainda que nem sempre seja fácil ).


Para acabar só mais um pequeno comentário. Tenho observado que ao fazer mais esforço para “falar” ou “falando”durante mais tempo aumentam imediatamente as secreções.

Fosse esse o preço a pagar para falar seria com muito gosto que todos nós o pagaríamos..........

HD Lisboa, Maio de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

TESTEMUNHO DE UM LARINGECTOMIZADO NO IPO DE LISBOA

Dar voz à voz
Por: ORLANDO MONTEIRO




Feito o diagnóstico,tudo se desenvolve num espaço de tempo curto - ou assim deveria ser - sem que por diversas razões sejam feitas perguntas aos profissionais de
saúde acerca do periodo pós operatório e quais as consequências na vida do dia a dia do laringectomizado. O doente, por isso, parte, sem grandes preocupações em relação ao futuro, para uma nova etapa da sua vida , não tendo bem a noção das consequências profundas que tal passo irá significar para a sua vida futura.

Existe, assim, uma grande falta de informação que o vai apanhar desprevenido. Não menos importante, são as consequências psicológicas pelas quais o paciente vai passar, uma vez que estas não são abordadas pelo médico ou outros profissionais de saúde, constituindo este aspecto um verdadeiro salto para o desconhecido! Uma informação adequada e atempada acerca de todos estes aspectos evitaria, certamente, muitos momentos dificeis. A este respeito, seria de considerar seriamente um apoio que só tivesse por objectivo ajudar e informar os doentes desde antes da intervenção cirúrgica até à sua adaptação às novas condições de vida.

Após a operação e alguns sobressaltos que vão surgindo, segue-se uma outra etapa importantissima, ou seja a terapia da fala. Estes sobressaltos variam de caso para
caso, sendo alguns evitáveis se o doente tivesse sido, antecipadamente, alertado para eles - mais uma vez está aqui presente a falta de informação tão necessária e útil.

Através da terapia da fala, o Laringectomizado vai poder voltar a comunicar e assim reencontrar uma vida quase normal. É este um periodo de grande esforço e persistência para que os resultados se vejam o mais rápido e eficazmente possível. Requer esta fase o esforço árduo, paciência e treino intensivo por parte do laringectomizado para que os progressos se comecem a notar. Nesta altura é de realçar a preciosa ajuda de um Terapeuta da Fala: com a sua expriência , tambem paciência , profissiona-
lismo e dedicação ajuda para que o doente "REAPRENDA" a falar, assim como o apoio psicologico. Mais uma vez fica bem clara a necessidade de um apoio psicologico
especilizado, tendo em vista a dificuldade de comunicação destes doentes.

Uma vez " REAPRENDIDO" a falar com a sua nova voz, na vida quatidiana surgem, mesmo assim, algumas dificuldades para se fazer entender pelos outros.

* Assim falar ao TELEFONE pode tornar-se complicado

* Em sitios onde haja muita gente, o entendimento é dificultado,
quer dizer ser ouvido e entendido pelos outros.

* Tambem não é fácil determinados serviços onde o cliente e o atendedor estão separados
por um vidro e falam por meio de um intercomonicador:

* Pode ser complicado tocar à campainha de um prédio e responder a quem pergunta
QUEM É.

* Participar na conversa de um grupo muito grande tambem pode ser complicado.

* Tentar comunicar, dentro de um carro com os outros viajantes, torna-se igualmente dificil.

* O alfacto deixa de existir praticamente, com todas as suas consequências negativas que isso acarreta.

* Estas circunstâncias podem influenciar negativamente o estado de espirito procando uma hipersensibilidade
e irritabilidade mais frequente.

De acordo com o testemunho de muitos Laringectomizados, o sexo femenino entende melhor os Laringectomizados do que os masculinos:
Em todas as idades há bons e maus entendedores:
Os que parecem estar a entender mas que depois por um comentário se vê que está longe do assunto em causa:
Outros hà que respondem aos berros, quando na realidade o problema não é o da audição:

Enfim, ficam relatados apenas algumas dificuldades na comunicaçãodo do Laringectomizado com os outros. No entanto, é de salientar que nunca tal eventuali-
dade deve ser razão para desanimo.. há sempre o papel e o lápis ou brincar com os outros dizendõ-lhes que eles é que são maus entendedores. Nunca nenhuma dificuldade em comunicar deve ser razão para a auto-marginalização não querendo estar com os outros,o Laringectomizado deve fazer notar a sua dificuldade e assim impor-se aos
outros.

Os assuntos supra mencionados podem assumir uma maior importância na vida laboral activa. Mas tambem aqui, a força de vontade de cada um para se superar
a si mesmo e superar as suas limitações é fundamental. É exemplo disto, o grande numero de Laringectomizados que trabalha, alguns deles desempenhando funções de
responsabilidade. Perder a laringe não significa perder a capacidade intelectual.

O Laringectomizado não deverá fechar-se sobre si, guardando no seu interior emoções, ideias e reparos. Deve"falar" ou melhor dizendo, F A L E J A R,
parafraseando um outro Laringectomizado. Deverá, antes, colocar~se entre os outros como um igual.

Texto escrito por :HENRIQUE DOMINGUEZ

quinta-feira, 14 de maio de 2009

CAUSAS DO CANCRO DA LARINGE

Cancro da laringe
Causas
A origem do cancro da laringe, como acontece com todos os cancros, ainda não é suficientemente clara. Todavia, ao contrário do que sucede nos outros tipos de cancro, no da laringe são conhecidos alguns factores intimamente ligados ao seu desenvolvimento, os quais podem ser considerados factores causadores. O principal é, sem dúvida, o hábito de fumar, pois o fumo do tabaco contém substâncias cancerígenas cuja repetida inalação pode provocar a transformação anómala de algumas células da mucosa laríngea. Deste modo, começam a multiplicar-se exageradamente, o que dá origem a um tumor que cresce, invade as estruturas adjacentes e se dissemina para outros tecidos e órgãos afastados, formando tumores secundários (metástases). De facto, a relação entre o tabagismo e o cancro da laringe é tão íntima que, tal como é evidenciado em inúmeros estudos, no mínimo 90% das pessoas afectadas são fumadoras. Além disso, nos vários estudos efectuados sobre o assunto, detectou-se uma relação directa entre o número de cigarros fumados habitualmente por dia e o risco de sofrer da doença.
Além do tabagismo, determinaram-se outros factores de risco, como o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e também a laringite crónica, provocada por infecções agudas repetidas, má utilização da voz ou inalação persistente de ar contaminado por pó ou vapores irritantes.
Manifestações
Os sintomas iniciais dependem do sector da laringe onde o tumor se desenvolve.
O tumor na glote costuma manifestar-se através de sintomas precoces, pois a alteração na mobilidade das cordas vocais provoca rouquidão e afonia, inicialmente de maneira intermitente, mas ao fim de algum tempo permanente. Além disso, em alguns casos, provoca uma tosse seca, ardor ou sensação de corpo estranho na garganta e, quando o tumor cresce, dificuldade respiratória e dor na deglutição.
Por outro lado, caso o tumor se situe no espaço supraglótico ou no subglótico, ou seja, por cima ou por baixo das cordas vocais, os sintomas iniciais não são tão claros, pois não se produzem alterações evidentes da voz. Em caso de cancro supraglótico, as primeiras manifestações são semeIhantes as de uma faringite crónica, com sensação de ardor na garganta ou de presença de um corpo estranho no seu interior, o que pode induzir a expectoração - apenas quando o tumor cresce é que surgem dores e alterações da voz. Em caso de cancro subglótico, o tumor pode crescer durante muito tempo sem originar problemas na fonação nem na respiração, os quais apenas surgem nas fases mais avançadas, quando invade as cordas vocais e obstrui a passagem do ar para os pulmões.
Caso não seja detectado e tratado a tempo, o cancro da laringe, independentemente da sua localização, costuma disseminar-se por via linfática para os gânglios do pescoço, os quais acabam por aumentar de tamanho. Em algumas situações, é o próprio paciente que recorre ao médico após detectar um aumento do volume dos gânglios linfáticos do pescoço, mesmo antes de se manifestarem os sintomas da fonação.
Nas fases mais avançadas, o paciente apresenta um grande cansaço, perda de apetite, emagrecimento e uma deterioração evidente do estado geral. Sem o tratamento adequado, a evolução desta patologia é fatal a curto ou médio prazo, sem quaisquer excepções Tratamento
O tratamento baseia-se em três medidas terapêuticas: a cirurgia, a radioterapia (aplicação de radiações) e a quimioterapia (administração de medicamentos citostáticos que impedem a proliferação das células cancerosas). A escolha ou combinação destes procedimentos terapêuticos depende, acima de tudo, da localização e extensão do tumor.
Em alguns casos, se o tumor for pequeno e estiver bem localizado, pode ser suficiente a aplicação de radioterapia. De qualquer forma, o recurso a cirurgia é muito frequente, com vista a extracção do cancro e de uma porção mais ou menos extensa da laringe. Como complemento pode-se recorrer a radioterapia e a quimioterapia, terapêuticas que podem ser aplicadas antes da operação com o objectivo de reduzir o tamanho do tumor e facilitar a intervenção, e depois da mesma, de forma a eliminar as células malignas que ainda permanecem na zona ou ainda estejam espalhadas por outras zonas do corpo.
Repercussões da cirurgia. Caso o tumor se situe no espaço supraglótico, pode-se proceder apenas a extracção da parte superior da laringe (laringectomia parcial), o que permite a conservação da voz do paciente. Por outro lado, quando se trata de um tumor na glote, nomeadamente numa corda vocal - a localização mais frequente -, a intervenção pode limitar-se a extracção da mesma (cordectomia), o que per-mite a conservação da voz, embora provoque uma alteração definitiva da fonação. No entanto, caso o tumor já seja muito grande, a única solução é realizar a total extracção da laringe (laringectomia total).
INFORMAÇÕES ADICIONAIS Prognóstico [+] O prognóstico do cancro da laringe depende essencialmente da fase em que é diagnosticado e em que é iniciado o tratamento.
Normalmente, costuma ser favorável, pois existe uma percentagem de sobrevivência de 65% ao fim de cinco anos. No entanto, quando o tumor é detectado e tratado precocemente, considera-se que a taxa de cura atinge os 90%. O medico responde [+] Diagnosticaram ao meu pai um cancro da laringe e o médico diz que a única hipótese é a extracção de toda a laringe. Isto significa que deixará de poder falar?
A extracção da laringe implica a perda do aparelho de fonação, pois o ar entra e sai do aparelho respiratório através de uma abertura na traqueia, deixando de passar entre as cordas vocais. Todavia, após a operação, o seu pai poderá aprender a falar mediante a utilização de técnicas especiais ou através do recurso a dispositivos específicos. Por exemplo, pode recorrer a "erigmofonia", uma técnica que consiste na introdução de ar no estômago, para depois expulsá-lo pela boca, como se fosse uma eructação, para que os sons possam ser modulados com a língua, os lábios e os dentes. Trata-se de uma aprendizagem lenta e laboriosa, sob a supervisão de um terapeuta da fala, e a voz obtida é diferente da natural, sendo considerada pouco comum, mas possibilita uma comunicação satisfatória. Também existem aparelhos electrónicos que, apoiados ao pescoço, produzem uma série de vibrações úteis na articulação de sons. Deve-se ter em conta que os problemas provocados pela perda da laringe podem ser considerados como um mal "menor", ou seja, como problemas de um tratamento que constitui a única forma de salvar a vida.

terça-feira, 5 de maio de 2009

A GRIPE "" SUÍNA "" H1N1

Artigo escrito em 23-04-2009 pelo Prof. João Vasconcelos Costa, Doutor e agregado em Medicina (Microbiologia)

A gripe
Provavelmente só porque é fim-de-semana é que os meus amigos, conhecendo-me como virologista, ainda não me questionaram sobre a gripe "suína". Infelizmente, o termo é errado. No caso da gripe aviária que apareceu, há poucos anos, houve infecção de algumas centenas de humanos, mas sem que o vírus pudesse passar desses humanos a outros. Agora é diferente.De suína, esta gripe só tem a origem. De facto, ela é bem humana. Na história da gripe, o aparecimento das grandes epidemias mundiais (pandemias) foi quase sempre por adaptação ao homem de vírus suínos da gripe. Por isto, as expectativas em relação ao vírus aviário H5N1 (sigla que identifica os dois principais antigénios do vírus, e que definem se temos ou não imunidade contra ele) eram a de, com alguma probabilidade, na situação do Extremo Oriente, de grande concentração conjunta de aves, porcos e humanos, o vírus aviário H5N1 passar para o porco e deste para o homem, adquirindo capacidade de transmissão homem a homem.Afinal, como tantas vezes acontece na emergência de novos vírus, a situação foi surpreendentemente diferente. O que aparece é um novo vírus humano - insisto, humano, transmissível de homem a homem - com origem no porco mas no outro lado do globo, no México. Também não é um H5N1 e por isto, como eu e muitos escrevemos na altura, era tolice investir em vacinas contra um vírus que ninguém sabia o que viria a ser - mas sim um H1N1, desaparecido da história da virologia há quase um século. Foi o tipo de vírus que causou a terrível pandemia de 1918, a espanhola, que matou mais gente na Europa do que a guerra mundial que tinha terminado pouco antes. É certo que tem havido, nos últimos invernos, algumas infecções com H1N1, mas não é o tipo hoje mais vulgar e nada garante que o novo vírus seja neutralizado por vacinação com os últimos H1N1 circulantes.Hoje, os dados oficiais mexicanos revelam cerca de 1300 infectados com mais de 100 mortes, uma taxa de letalidade já considerável. Também já há casos nos EUA. O que significa isto? Não quero ser alarmista, mas os meus leitores têm o direito ao que de mais objectivo eu, especialista, possa dizer.Considero uma situação muito preocupante, porque estamos perante condições muito diferentes do que eram as tradicionais na emergência de novas pandemias de gripe. A sua origem não é em zonas rurais da Ásia mas sim numa área metropolitana de 20 milhões de pessoas, em estreito contacto favorecedor de transmissão por via respiratória. Em segundo lugar, os vírus hoje viajam de avião. Finalmente, como disse atrás, trata-se de um tipo de vírus contra o qual há dezenas de anos que não há qualquer resistência imune nem há vacinas rapidamente disponíveis.Que fazer, em Portugal? Para já, a nível individual, nada. A nível das autoridades de saúde, vigilância, controlo a nível de medicina das viagens, planeamento desde já de condições de hospitalização e isolamento de milhares de possíveis doentes (atenção, vai ser a esta escala, transformando a FIL em hospital). O que faria agora eu, como indivíduo? Obviamente, cancelar qualquer viagem marcada para o México ou para o sul dos EUA. Informar-me junto do meu médico sobre todos os sinais de alerta, os sintomas da gripe, que muita gente confunde com os de uma vulgar constipação. Se começar a haver casos em Portugal, usar máscara, deixar de frequentar locais com muita gente, isolar em casa, como prisioneiros, os nossos pais septuagenários. Mas também ter em conta que o mesmo progresso e actual modo de vida que nos vai trazer o vírus de avião também vai permitir o diagnóstico muito precoce da doença, a produção limitada mas razoável de medicamentos e de vacinas.P. S. - Já imagino o que vai haver por aí de pânico em relação ao consumo de carne de porco! Mesmo que a gripe fosse suína, não era pela carne que se transmitiria. Mas, como chamei a atenção, "suína" é neste caso uma referência enganosa, tem a ver só com a origem. Quem a vai ter são os humanos, não os pobres suínos.01.05.2009
Prof. João Vasconcelos Costa
Doutor e agregado em Medicina (Microbiologia), http://jvcosta.planetaclix.pt/moleskine.html#10